sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

As pessoas do Pessoa.

"Não sei quem sou, que alma tenho.
 Quando falo com sinceridade, não sei com que sinceridade falo.
 Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)..;
 Sinto crenças que não tenho.
 Enlevam-me ânsias que repudio.
 A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
  traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha,
  nem ela me julga que eu tenho.
 Sinto-me múltiplo.
 Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
  que torcem para reflexões falsas
 uma única anterior ralidade que não está em nenhuma e está em   todas.
 Como o panteísta se sente árvore e até flor, sinto-me vários seres.
 Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
  como se o meu ser participasse de todos os homens,
  incompletamente de cada,
  por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa.

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